A colônia de Roanoke, na Ilha de Roanoke, no condado de Dare, na atual Carolina do Norte, foi um empreendimento financiado e organizado por Sir Walter Raleigh (foto abaixo) em fins do século 16 para estabelecer um assentamento inglês permanente na colônia da Virgínia. Entre 1585 e 1587, grupos de colonos foram deixados ali com este intuito, todos os quais ou abandonaram a colônia ou desapareceram. O último grupo desapareceu após um período de três anos passado sem suprimentos vindos da Inglaterra, o que levou ao surgimento de um mistério que perdura até os dias de hoje, conhecido como “A colônia perdida”. A principal hipótese é que os colonos foram absorvidos por uma das populações indígenas locais, embora também possam ter sido massacrados, pelos espanhóis ou pelos índios powhatan.
1. Sir Walter Raleigh havia recebido uma carta régia da rainha Elizabeth para a colonização da região da América do Norte conhecida como Virgínia. A carta especificava que Raleigh tinha dez anos para estabelecer um assentamento na América do Norte ou perderia os direitos de colonização. Raleigh e Elizabeth pretendiam que o empreendimento provisse riquezas do Novo Mundo e uma base a partir da qual seriam enviados corsários para interceptar os navios carregados de tesouros da frota espanhola.
2. Em 1584, Raleigh despachou uma expedição para explorar a costa oriental da América do Norte em busca de um lugar apropriado. A expedição foi liderada por Phillip Amadas e Arthur Barlowe, os quais escolheram os Outer Banks da moderna Carolina do Norte como ponto ideal a partir do qual poderiam atacar os espanhóis, que possuíam assentamentos ao sul, e continuar fazendo contatos com os índios americanos, a tribo croatana dos pamlicos.
3. Na primavera seguinte, uma expedição colonizadora composta unicamente por homens, muitos dos quais soldados veteranos que haviam lutado para estabelecer o domínio inglês na Irlanda, foi enviada para fundar a colônia. O líder desta tentativa de assentamento, Sir Richard Grenville, ficou encarregado de avançar a exploração da área, estabelecer a colônia e voltar à Inglaterra com notícias sobre o sucesso do empreendimento.
4. O estabelecimento da colônia foi inicialmente postergado, talvez porque a maior parte dos suprimentos alimentícios dos colonos tenham sido arruinados quando a nau-capitânea Tyger encalhou num baixio na chegada aos Outer Banks. Após uma exploração inicial da costa continental e de uma recepção cordial por parte das populações indígenas ali assentadas, os nativos da aldeia de Aquascogoc foram acusados de roubar uma xícara de prata. Numa retaliação despropositada, Grenville ordenou então que a aldeia fosse incendiada.
5. Apesar deste grave incidente e da falta de comida, em agosto de 1585, Grenville decidiu deixar Ralph Lane e 107 homens para fundar a colônia inglesa no norte da Ilha de Roanoke, onde um forte havia sido construído. Prometeu retornar em abril de 1586, com mais homens e suprimentos.
6. Em abril de 1586, Grenville não apareceu, e o comportamento beligerante do ingleses (que faziam reféns e roubavam a comida dos índios) já havia despertado grande hostilidade entre as tribos vizinhas. Rumores davam conta de que Wingina, cacique da tribo de Roanoke, planejava atacar os colonos antes que estes roubassem seus suprimentos; ao tomar conhecimento disto, Lane resolveu agir primeiro.
7. Em junho, os colonos receberam a visita da frota de Sir Francis Drake, que havia feito uma pausa para descanso após uma bem-sucedida incursão às bases espanholas no Caribe e na Flórida. Drake ofereceu um barco, o Francis, e um mês de suprimentos para que os colonos retornassem à Inglaterra. Lane não parecia muito propenso a partir e, a princípio cogitou em mandar de volta somente os doentes. Todavia, uma grande tempestade (talvez um furacão) atrapalhou os planos de Drake e dos colonos, dispersando a frota e fazendo com que o Francis fosse arrastado para alto-mar. Drake, então, ofereceu um segundo navio, o Bonner, grande demais para navegar pela enseada, e Lane então decidiu que era hora de partir. Assim, em 18 de junho de 1586, terminou de forma confusa a primeira tentativa de colonização.
8. Três homens foram deixados para trás e se tornaram os primeiros “colonos perdidos”. Quando Grenville finalmente chegou, duas semanas mais tarde, com suprimentos e 400 homens, a colônia foi encontrada deserta. Grenville decidiu não deixar um grande contingente, e destacou apenas quinze homens para garantir a presença inglesa na região e proteger os direitos de Raleigh sobre a Virgínia.
9. Em 1587, Raleigh decidiu enviar outro grupo de colonizadores. Desta vez, seus planos eram muito mais ambiciosos e ele pretendia fundar não mais uma colônia, mas uma cidade: a Cittie of Ralegh, oficialmente constituída em 07 de janeiro de 1587. Em número de 115, incluindo 16 mulheres e nove meninos, os novos colonos eram pessoas que haviam investido no projeto ou que haviam se vinculado ao mesmo com suas famílias, em troca de 500 acres de terra e participação na administração da colônia.
10. Liderados por John White, um artista e amigo de Raleigh que havia acompanhado as expedições anteriores a Roanoke, o novo grupo tinha por incumbência substituir os quinze homens deixados por Grenville no ano anterior, e encontrar um local de assentamento mais ao norte, na Baía de Chesapeake, onde navios de grande porte pudessem atracar. A bordo do Lyon, embarcação de quase 120 toneladas de capacidade e acompanhados por uma pinaça e um barco rápido, o grupo deixou a Inglaterra em 08 de maio de 1587. O barco rápido desapareceu numa tempestade, ao largo da costa de Portugal. Em 16 de julho, avistaram o continente (mas fora da localização correta, por erro do piloto da frota) e em 22 de julho, finalmente chegaram a Roanoke.
11. Ao desembarcar da pinaça na Ilha de Roanoke, acompanhado por 40 homens, John White esperava fazer contato com os quinze homens de Grenville e depois velejar para o norte em busca de um bom local para estabelecer a Cittie of Ralegh. Todavia, depararam-se com o forte devastado e nenhum sinal de seus habitantes, exceto o esqueleto de um deles. Pouco tempo depois, o barco rápido desaparecido na costa de Portugal chegou à ilha.
12. Cerca de uma semana após a chegada dos ingleses, um dos colonos, George Howe, foi morto numa emboscada enquanto pescava. Foi então organizada uma patrulha de vinte homens, chefiados por Edward Stafford e acompanhada do índio croatano Manteo, intérprete do grupo. O grupo dirigiu-se para a Ilha Croatoan, lar de Manteo, em busca de pistas sobre os culpados pelo crime. Ali, os croatanos informaram a Stafford que Howe havia sido morto por membros da tribo de Wingina. Como represália, Stafford e doze dos seus homens atacaram a aldeia de Dasamonquepeuc. Só tardiamente tomaram ciência de que os roanokes haviam fugido após o assassinato, temendo a reação dos ingleses, e que os croatanos haviam ocupado a aldeia, para colher o milho abandonado pelos fugitivos.
13. Curiosamente, o índio Manteo culpou o próprio povo por não ter alertado os ingleses para esse possível mal-entendido, e, por sua lealdade, em 13 de agosto de 1587, ele tornou-se simultaneamente o primeiro ameríndio batizado pelo Protestantismo, e também a primeira pessoa a receber um título de nobreza inglês no Novo Mundo, tendo sido nomeado por Sir Walter Raleigh como Lorde de Roanoke e de Dasamonquepeuc. Em 18 de agosto de 1587, outro acontecimento trouxe alegria à colônia: o nascimento da primeira criança de pais ingleses no Novo Mundo, Virginia Dare, filha de Elinor White Dare e neta de John White.
14. Em 22 de agosto, um mês depois da chegada, tornou-se claro que a colônia, para subsistir, precisaria de mais suprimentos com urgência. Alguém teria de voltar à Inglaterra para providenciar isso, e, após um pedido por escrito assinado em peso pelos colonos, John White teve de assumir a empreitada. Antes de partir, porém, combinou com os colonos que, caso estes necessitassem abandonar o forte em virtude de um ataque, deveriam gravar o destino planejado e uma cruz-de-malta numa árvore, para orientar um eventual grupo de resgate. Finalmente, em 25 de agosto, ele zarpou de volta para casa.
15. Cruzar o Atlântico em época tão avançada do ano era um risco considerável, conforme exposto pelo piloto Simon Fernandez. Além disso, quando a frota chegou aos Açores, dos quinze marujos do barco rápido, apenas cinco estavam em condições de trabalhar. A bordo do Lyon, para desespero de White, o piloto Fernandez também parecia não ter a menor pressa de chegar à Inglaterra, preferindo passar algum tempo procurando navios espanhóis para saquear. Apesar das péssimas condições de navegação, White preferiu arriscar-se e seguir com o barco rápido, o qual somente em meados de outubro chegou às costas da Irlanda.
16. Mesmo após chegar à Inglaterra, as provações de White não terminaram. A ameaça da Invencível Armada de Filipe II da Espanha inviabilizou o envio imediato de uma frota de resgate. Embora White houvesse conseguido seis barcos pequenos, apenas após uma longa espera de quatro meses as duas embarcações menores, a barca Brave de 30 toneladas e a pinaça Roe, de 25, foram consideradas inadequadas para o plano de defesa da Inglaterra e liberadas para partir. Todavia, o Brave envolveu-se em combate contra navios franceses maiores e foi obrigado a retornar ao porto de origem. Pouco depois, o Roe tomou o mesmo rumo.
17. A batalha contra a Invencível Armada foi fatal para a ideia de um retorno rápido a Roanoke. Apenas em 15 de agosto de 1590, três anos após sua partida, White pisou novamente nos Outer Banks. No dia seguinte, os ingleses avistaram uma coluna de fumaça saindo da ilha, e supuseram que se tratava de um sinal feito pelos colonos. Todavia, não foi encontrado nenhum vestígio deles ao longo da costa. Em 18 de agosto, aniversário de Virginia Dare, os ingleses chegaram ao local da colônia. Num dos troncos da paliçada que cercava o forte, havia sido gravada a palavra “CROATOAN”, e “CRO”, numa árvore próxima, mas sem a cruz-de-malta que indicaria um ataque inimigo. No interior da paliçada, as casas haviam sido derrubadas e havia uma grande quantidade de implementos metálicos espalhados pelo chão, já cobertos pelo mato.
18. White pretendia velejar até a Ilha Croatoan para verificar se os colonos realmente estavam lá, mas problemas com as embarcações e a ameaça de uma grande tempestade inviabilizaram seu propósito. No dia seguinte, a frota levantou âncora de volta à Inglaterra. White jamais retornou a Roanoke.
19. O fim da colônia de 1587 permanece um mistério, e existem várias hipóteses sobre o destino dos colonos. A principal delas é que eles se dispersaram e foram absorvidos ou pelos índios da região, croatanos ou hatteras, ou por algum outro povo algonquino; teoricamente, isto ainda poderia ser comprovado através de análises de DNA.
20. Em “The lost colony in fact and legend”, de F. Roy Johnson, o co-autor Thomas C. Parramore escreveu: “A evidência de que alguns dos colonos perdidos ainda estavam vivos por volta de 1610 em território Tuscarora é convincente. Um mapa do interior da região do que agora é a Carolina do Norte, desenhado em 1608 por Francis Nelson, residente em Jamestown, é o testemunho mais eloquente neste respeito. Este documento, o assim chamado ‘Mapa Zuniga’, informa que ‘4 homens vestidos com roupas que vieram de roonock’ ainda estavam vivos na cidade de Pakeriukinick, evidentemente um sítio iroquês no Neuse.” Também diz que “por volta de 1609 havia rumores em Londres sobre ingleses de Roanoke vivendo sob o comando de um chefe denominado Gepanocan e aparentemente em Pakerikinick. Foi dito que Gepanocan mantinha quatro homens, dois garotos e uma jovem donzela de Roanoke como artesãos”.
21. Em 10 de fevereiro de 1885, o deputado Hamilton McMillan obteve a aprovação do “Croatan bill”, o qual oficialmente designava a população indígena em torno do condado de Robeson como croatana. Dois dias depois, em 12 de fevereiro de 1885, o “Fayetteville Observer” publicou um artigo a respeito das origens dos índios do condado. O artigo diz declara: “Eles dizem que suas tradições dizem que o povo que chamamos de índios croatanos (embora eles não reconheçam este nome como o de sua tribo, mas somente de uma aldeia, e que eles eram Tuscaroras), sempre foram amigos dos brancos; e encontrando-os empobrecidos e desesperados por jamais terem recebido ajuda da Inglaterra, persuadiram-nos a abandonar a ilha, e rumar para o continente. Eles gradualmente perderam contato com o assentamento original e finalmente fixaram-se em Robeson, quase no centro do condado”.
22. Uma lenda similar afirma que os nativos do condado de Person, Carolina do Norte, são descendentes dos colonos ingleses da Ilha de Roanoke. Com efeito, quando estes índios foram contatados por colonos subsequentes, observaram que os nativos quase falavam inglês e professavam a religião cristã. O grupo também tinha recordações dos bebês nascidos na Ilha de Roanoke e muitos exibiam características físicas dos brancos europeus mescladas com características dos ameríndios. Outros deram um desconto nessas coincidências e classificaram os habitantes do condado de Person como um ramo da tribo saponi.
23. Outros teorizam que a colônia mudou-se em peso e foi destruída posteriormente. Quando o capitão John Smith e os colonos de Jamestown chegaram à Virgínia em 1607, uma das tarefas que lhes haviam sido atribuídas era descobrir o paradeiro dos colonos de Roanoke. Os nativos contaram ao capitão Smith que havia pessoas num raio de cinquenta milhas de Jamestown, que se vestiam e viviam como os ingleses.
24. O cacique Wahunsunacock (mais conhecido como Chefe Powhatan) também falou ao capitão Smith sobre a Confederação Powhatan da Península da Virgínia, e de como esta havia dizimado os colonos de Roanoke pouco antes da chegada dos colonos de Jamestown, porque os ingleses estavam vivendo com os chesepianos, uma tribo que vivia na parte oriental da moderna sub-região de South Hampton Roads e que se recusou a juntar-se à confederação. Evidências arqueológicas encontradas em Great Neck Point, na moderna Virginia Beach, no sítio onde se ergueu a aldeia dos chesepianos, sugerem que essa tribo estava relacionada com os pamlicos, em vez dos powhatans.
25. O Chefe Powhatan alegadamente apresentou vários implementos de ferro ingleses para corroborar sua assertiva. Não foram encontrados corpos, embora houvesse relatos sobre um outeiro funerário indígena na área de Sewell’s Point em Pine Beach, atual região de Norfolk, onde a principal aldeia dos chesepianos, Skioak, pode ter estado localizada.
26. A hipótese tem sido questionada porque, de acordo com “The historie of travaile into Virginia Britanica” (de 1612) de William Strachey, os chesepianos foram eliminados porque os pajés dos powhatan os alertaram que “da Baía de Chesapeake uma nação se levantará, a qual dissolverá e porá fim ao seu império”. Strachey, que chegou na colônia da Virgínia em maio de 1610 com a Third Supply, estava cônscio do mistério dos colonos de Roanoke, mas não fez nenhuma menção a eles no conjunto de seus escritos sobre o destino dos chesepianos nas mãos dos powhatans.
27. Outros ainda especularam que os colonos simplesmente desistiram de esperar e tentaram retornar à Inglaterra por conta própria, perecendo na tentativa. Quando o governador White partiu em 1587, deixou uma pinaça com os colonos e vários barcos pequenos para exploração da costa e mudança da colônia para o continente.
28. Existe quem teorize que os espanhóis destruíram a colônia. Anteriormente, no século 16, os espanhóis destruíram as evidências da colônia francesa em Fort Charles na Carolina do Sul e depois massacraram os residentes de Fort Caroline, outra colônia francesa localizada próxima da moderna Jacksonville, Flórida. Isto, todavia, é improvável, visto que por volta de 1600, os espanhóis ainda estavam procurando a localização da mal-sucedida colônia inglesa, dez anos depois de White ter descoberto que os colonos haviam desaparecido.
29. Em 1998, uma equipe liderada pelo climatólogo David W. Stahle e pelo arqueólogo Dennis B. Blanton usou três cortes de troncos de ciprestes de 800 anos de idade da região da Ilha de Roanoke, na Carolina do Norte, e de Jamestown, na Virgínia, para reconstruir a cronologia de precipitações e temperatura. Os pesquisadores concluíram que os colonizadores da colônia perdida desembarcaram na Ilha de Roanoke no verão do pior período de seca em 800 anos.
30. Os pesquisadores sugeriram que os croatanos que foram mortos a tiros pelos colonos podem ter saqueado a vila abandonada em busca de comida, como consequência da seca. A dramática redução nas fontes de alimentos pode ter ainda forçado os colonos a abandonar Roanoke e tentar a sorte no continente.
31. Em 1998, a East Carolina University organizou o “The Croatoan project”, uma investigação arqueológica dos eventos de Roanoke. A equipe de escavação enviada à ilha descobriu um anel de sinete inglês do século 16, em ouro de 10 quilates (42% de pureza), um mosquete de pederneira e dois farthings de cobre também do século 16 no antigo lugar da capital de Croatoan, a 80 km de distância da antiga colônia de Roanoke.
32. Genealogistas foram capazes de relacionar o leão coroado do sinete à cota de armas dos Kendall e concluíram que o anel muito provavelmente pertenceu a um certo Mestre Kendall que é lembrado como tendo vivido na colônia de Ralph Lane na Ilha de Roanoke, entre 1585 e 1586. Se esse for o caso, o anel representa a primeira conexão material entre os colonos de Roanoke e os nativos da Ilha Hatteras.
33. Desde 2005, uma nova tentativa está em curso através do Lost Colony Center for Science and Research, para usar testes de DNA para provar ou desmentir a afirmação de que alguns sobreviventes da colônia perdida foram assimilados pelas tribos indígenas locais, seja através de adoção ou de escravização. Uma grande porcentagem de sobrenomes dos colonos desaparecidos existe entre membros destas tribos. Além disso, foram descobertas escrituras e testamentos que dão suporte a essa teoria.
1. Sir Walter Raleigh havia recebido uma carta régia da rainha Elizabeth para a colonização da região da América do Norte conhecida como Virgínia. A carta especificava que Raleigh tinha dez anos para estabelecer um assentamento na América do Norte ou perderia os direitos de colonização. Raleigh e Elizabeth pretendiam que o empreendimento provisse riquezas do Novo Mundo e uma base a partir da qual seriam enviados corsários para interceptar os navios carregados de tesouros da frota espanhola.
2. Em 1584, Raleigh despachou uma expedição para explorar a costa oriental da América do Norte em busca de um lugar apropriado. A expedição foi liderada por Phillip Amadas e Arthur Barlowe, os quais escolheram os Outer Banks da moderna Carolina do Norte como ponto ideal a partir do qual poderiam atacar os espanhóis, que possuíam assentamentos ao sul, e continuar fazendo contatos com os índios americanos, a tribo croatana dos pamlicos.
3. Na primavera seguinte, uma expedição colonizadora composta unicamente por homens, muitos dos quais soldados veteranos que haviam lutado para estabelecer o domínio inglês na Irlanda, foi enviada para fundar a colônia. O líder desta tentativa de assentamento, Sir Richard Grenville, ficou encarregado de avançar a exploração da área, estabelecer a colônia e voltar à Inglaterra com notícias sobre o sucesso do empreendimento.
4. O estabelecimento da colônia foi inicialmente postergado, talvez porque a maior parte dos suprimentos alimentícios dos colonos tenham sido arruinados quando a nau-capitânea Tyger encalhou num baixio na chegada aos Outer Banks. Após uma exploração inicial da costa continental e de uma recepção cordial por parte das populações indígenas ali assentadas, os nativos da aldeia de Aquascogoc foram acusados de roubar uma xícara de prata. Numa retaliação despropositada, Grenville ordenou então que a aldeia fosse incendiada.
5. Apesar deste grave incidente e da falta de comida, em agosto de 1585, Grenville decidiu deixar Ralph Lane e 107 homens para fundar a colônia inglesa no norte da Ilha de Roanoke, onde um forte havia sido construído. Prometeu retornar em abril de 1586, com mais homens e suprimentos.
6. Em abril de 1586, Grenville não apareceu, e o comportamento beligerante do ingleses (que faziam reféns e roubavam a comida dos índios) já havia despertado grande hostilidade entre as tribos vizinhas. Rumores davam conta de que Wingina, cacique da tribo de Roanoke, planejava atacar os colonos antes que estes roubassem seus suprimentos; ao tomar conhecimento disto, Lane resolveu agir primeiro.
7. Em junho, os colonos receberam a visita da frota de Sir Francis Drake, que havia feito uma pausa para descanso após uma bem-sucedida incursão às bases espanholas no Caribe e na Flórida. Drake ofereceu um barco, o Francis, e um mês de suprimentos para que os colonos retornassem à Inglaterra. Lane não parecia muito propenso a partir e, a princípio cogitou em mandar de volta somente os doentes. Todavia, uma grande tempestade (talvez um furacão) atrapalhou os planos de Drake e dos colonos, dispersando a frota e fazendo com que o Francis fosse arrastado para alto-mar. Drake, então, ofereceu um segundo navio, o Bonner, grande demais para navegar pela enseada, e Lane então decidiu que era hora de partir. Assim, em 18 de junho de 1586, terminou de forma confusa a primeira tentativa de colonização.
8. Três homens foram deixados para trás e se tornaram os primeiros “colonos perdidos”. Quando Grenville finalmente chegou, duas semanas mais tarde, com suprimentos e 400 homens, a colônia foi encontrada deserta. Grenville decidiu não deixar um grande contingente, e destacou apenas quinze homens para garantir a presença inglesa na região e proteger os direitos de Raleigh sobre a Virgínia.
9. Em 1587, Raleigh decidiu enviar outro grupo de colonizadores. Desta vez, seus planos eram muito mais ambiciosos e ele pretendia fundar não mais uma colônia, mas uma cidade: a Cittie of Ralegh, oficialmente constituída em 07 de janeiro de 1587. Em número de 115, incluindo 16 mulheres e nove meninos, os novos colonos eram pessoas que haviam investido no projeto ou que haviam se vinculado ao mesmo com suas famílias, em troca de 500 acres de terra e participação na administração da colônia.
10. Liderados por John White, um artista e amigo de Raleigh que havia acompanhado as expedições anteriores a Roanoke, o novo grupo tinha por incumbência substituir os quinze homens deixados por Grenville no ano anterior, e encontrar um local de assentamento mais ao norte, na Baía de Chesapeake, onde navios de grande porte pudessem atracar. A bordo do Lyon, embarcação de quase 120 toneladas de capacidade e acompanhados por uma pinaça e um barco rápido, o grupo deixou a Inglaterra em 08 de maio de 1587. O barco rápido desapareceu numa tempestade, ao largo da costa de Portugal. Em 16 de julho, avistaram o continente (mas fora da localização correta, por erro do piloto da frota) e em 22 de julho, finalmente chegaram a Roanoke.
11. Ao desembarcar da pinaça na Ilha de Roanoke, acompanhado por 40 homens, John White esperava fazer contato com os quinze homens de Grenville e depois velejar para o norte em busca de um bom local para estabelecer a Cittie of Ralegh. Todavia, depararam-se com o forte devastado e nenhum sinal de seus habitantes, exceto o esqueleto de um deles. Pouco tempo depois, o barco rápido desaparecido na costa de Portugal chegou à ilha.
12. Cerca de uma semana após a chegada dos ingleses, um dos colonos, George Howe, foi morto numa emboscada enquanto pescava. Foi então organizada uma patrulha de vinte homens, chefiados por Edward Stafford e acompanhada do índio croatano Manteo, intérprete do grupo. O grupo dirigiu-se para a Ilha Croatoan, lar de Manteo, em busca de pistas sobre os culpados pelo crime. Ali, os croatanos informaram a Stafford que Howe havia sido morto por membros da tribo de Wingina. Como represália, Stafford e doze dos seus homens atacaram a aldeia de Dasamonquepeuc. Só tardiamente tomaram ciência de que os roanokes haviam fugido após o assassinato, temendo a reação dos ingleses, e que os croatanos haviam ocupado a aldeia, para colher o milho abandonado pelos fugitivos.
13. Curiosamente, o índio Manteo culpou o próprio povo por não ter alertado os ingleses para esse possível mal-entendido, e, por sua lealdade, em 13 de agosto de 1587, ele tornou-se simultaneamente o primeiro ameríndio batizado pelo Protestantismo, e também a primeira pessoa a receber um título de nobreza inglês no Novo Mundo, tendo sido nomeado por Sir Walter Raleigh como Lorde de Roanoke e de Dasamonquepeuc. Em 18 de agosto de 1587, outro acontecimento trouxe alegria à colônia: o nascimento da primeira criança de pais ingleses no Novo Mundo, Virginia Dare, filha de Elinor White Dare e neta de John White.
14. Em 22 de agosto, um mês depois da chegada, tornou-se claro que a colônia, para subsistir, precisaria de mais suprimentos com urgência. Alguém teria de voltar à Inglaterra para providenciar isso, e, após um pedido por escrito assinado em peso pelos colonos, John White teve de assumir a empreitada. Antes de partir, porém, combinou com os colonos que, caso estes necessitassem abandonar o forte em virtude de um ataque, deveriam gravar o destino planejado e uma cruz-de-malta numa árvore, para orientar um eventual grupo de resgate. Finalmente, em 25 de agosto, ele zarpou de volta para casa.
15. Cruzar o Atlântico em época tão avançada do ano era um risco considerável, conforme exposto pelo piloto Simon Fernandez. Além disso, quando a frota chegou aos Açores, dos quinze marujos do barco rápido, apenas cinco estavam em condições de trabalhar. A bordo do Lyon, para desespero de White, o piloto Fernandez também parecia não ter a menor pressa de chegar à Inglaterra, preferindo passar algum tempo procurando navios espanhóis para saquear. Apesar das péssimas condições de navegação, White preferiu arriscar-se e seguir com o barco rápido, o qual somente em meados de outubro chegou às costas da Irlanda.
16. Mesmo após chegar à Inglaterra, as provações de White não terminaram. A ameaça da Invencível Armada de Filipe II da Espanha inviabilizou o envio imediato de uma frota de resgate. Embora White houvesse conseguido seis barcos pequenos, apenas após uma longa espera de quatro meses as duas embarcações menores, a barca Brave de 30 toneladas e a pinaça Roe, de 25, foram consideradas inadequadas para o plano de defesa da Inglaterra e liberadas para partir. Todavia, o Brave envolveu-se em combate contra navios franceses maiores e foi obrigado a retornar ao porto de origem. Pouco depois, o Roe tomou o mesmo rumo.
17. A batalha contra a Invencível Armada foi fatal para a ideia de um retorno rápido a Roanoke. Apenas em 15 de agosto de 1590, três anos após sua partida, White pisou novamente nos Outer Banks. No dia seguinte, os ingleses avistaram uma coluna de fumaça saindo da ilha, e supuseram que se tratava de um sinal feito pelos colonos. Todavia, não foi encontrado nenhum vestígio deles ao longo da costa. Em 18 de agosto, aniversário de Virginia Dare, os ingleses chegaram ao local da colônia. Num dos troncos da paliçada que cercava o forte, havia sido gravada a palavra “CROATOAN”, e “CRO”, numa árvore próxima, mas sem a cruz-de-malta que indicaria um ataque inimigo. No interior da paliçada, as casas haviam sido derrubadas e havia uma grande quantidade de implementos metálicos espalhados pelo chão, já cobertos pelo mato.
18. White pretendia velejar até a Ilha Croatoan para verificar se os colonos realmente estavam lá, mas problemas com as embarcações e a ameaça de uma grande tempestade inviabilizaram seu propósito. No dia seguinte, a frota levantou âncora de volta à Inglaterra. White jamais retornou a Roanoke.
19. O fim da colônia de 1587 permanece um mistério, e existem várias hipóteses sobre o destino dos colonos. A principal delas é que eles se dispersaram e foram absorvidos ou pelos índios da região, croatanos ou hatteras, ou por algum outro povo algonquino; teoricamente, isto ainda poderia ser comprovado através de análises de DNA.
20. Em “The lost colony in fact and legend”, de F. Roy Johnson, o co-autor Thomas C. Parramore escreveu: “A evidência de que alguns dos colonos perdidos ainda estavam vivos por volta de 1610 em território Tuscarora é convincente. Um mapa do interior da região do que agora é a Carolina do Norte, desenhado em 1608 por Francis Nelson, residente em Jamestown, é o testemunho mais eloquente neste respeito. Este documento, o assim chamado ‘Mapa Zuniga’, informa que ‘4 homens vestidos com roupas que vieram de roonock’ ainda estavam vivos na cidade de Pakeriukinick, evidentemente um sítio iroquês no Neuse.” Também diz que “por volta de 1609 havia rumores em Londres sobre ingleses de Roanoke vivendo sob o comando de um chefe denominado Gepanocan e aparentemente em Pakerikinick. Foi dito que Gepanocan mantinha quatro homens, dois garotos e uma jovem donzela de Roanoke como artesãos”.
21. Em 10 de fevereiro de 1885, o deputado Hamilton McMillan obteve a aprovação do “Croatan bill”, o qual oficialmente designava a população indígena em torno do condado de Robeson como croatana. Dois dias depois, em 12 de fevereiro de 1885, o “Fayetteville Observer” publicou um artigo a respeito das origens dos índios do condado. O artigo diz declara: “Eles dizem que suas tradições dizem que o povo que chamamos de índios croatanos (embora eles não reconheçam este nome como o de sua tribo, mas somente de uma aldeia, e que eles eram Tuscaroras), sempre foram amigos dos brancos; e encontrando-os empobrecidos e desesperados por jamais terem recebido ajuda da Inglaterra, persuadiram-nos a abandonar a ilha, e rumar para o continente. Eles gradualmente perderam contato com o assentamento original e finalmente fixaram-se em Robeson, quase no centro do condado”.
22. Uma lenda similar afirma que os nativos do condado de Person, Carolina do Norte, são descendentes dos colonos ingleses da Ilha de Roanoke. Com efeito, quando estes índios foram contatados por colonos subsequentes, observaram que os nativos quase falavam inglês e professavam a religião cristã. O grupo também tinha recordações dos bebês nascidos na Ilha de Roanoke e muitos exibiam características físicas dos brancos europeus mescladas com características dos ameríndios. Outros deram um desconto nessas coincidências e classificaram os habitantes do condado de Person como um ramo da tribo saponi.
23. Outros teorizam que a colônia mudou-se em peso e foi destruída posteriormente. Quando o capitão John Smith e os colonos de Jamestown chegaram à Virgínia em 1607, uma das tarefas que lhes haviam sido atribuídas era descobrir o paradeiro dos colonos de Roanoke. Os nativos contaram ao capitão Smith que havia pessoas num raio de cinquenta milhas de Jamestown, que se vestiam e viviam como os ingleses.
24. O cacique Wahunsunacock (mais conhecido como Chefe Powhatan) também falou ao capitão Smith sobre a Confederação Powhatan da Península da Virgínia, e de como esta havia dizimado os colonos de Roanoke pouco antes da chegada dos colonos de Jamestown, porque os ingleses estavam vivendo com os chesepianos, uma tribo que vivia na parte oriental da moderna sub-região de South Hampton Roads e que se recusou a juntar-se à confederação. Evidências arqueológicas encontradas em Great Neck Point, na moderna Virginia Beach, no sítio onde se ergueu a aldeia dos chesepianos, sugerem que essa tribo estava relacionada com os pamlicos, em vez dos powhatans.
25. O Chefe Powhatan alegadamente apresentou vários implementos de ferro ingleses para corroborar sua assertiva. Não foram encontrados corpos, embora houvesse relatos sobre um outeiro funerário indígena na área de Sewell’s Point em Pine Beach, atual região de Norfolk, onde a principal aldeia dos chesepianos, Skioak, pode ter estado localizada.
26. A hipótese tem sido questionada porque, de acordo com “The historie of travaile into Virginia Britanica” (de 1612) de William Strachey, os chesepianos foram eliminados porque os pajés dos powhatan os alertaram que “da Baía de Chesapeake uma nação se levantará, a qual dissolverá e porá fim ao seu império”. Strachey, que chegou na colônia da Virgínia em maio de 1610 com a Third Supply, estava cônscio do mistério dos colonos de Roanoke, mas não fez nenhuma menção a eles no conjunto de seus escritos sobre o destino dos chesepianos nas mãos dos powhatans.
27. Outros ainda especularam que os colonos simplesmente desistiram de esperar e tentaram retornar à Inglaterra por conta própria, perecendo na tentativa. Quando o governador White partiu em 1587, deixou uma pinaça com os colonos e vários barcos pequenos para exploração da costa e mudança da colônia para o continente.
28. Existe quem teorize que os espanhóis destruíram a colônia. Anteriormente, no século 16, os espanhóis destruíram as evidências da colônia francesa em Fort Charles na Carolina do Sul e depois massacraram os residentes de Fort Caroline, outra colônia francesa localizada próxima da moderna Jacksonville, Flórida. Isto, todavia, é improvável, visto que por volta de 1600, os espanhóis ainda estavam procurando a localização da mal-sucedida colônia inglesa, dez anos depois de White ter descoberto que os colonos haviam desaparecido.
29. Em 1998, uma equipe liderada pelo climatólogo David W. Stahle e pelo arqueólogo Dennis B. Blanton usou três cortes de troncos de ciprestes de 800 anos de idade da região da Ilha de Roanoke, na Carolina do Norte, e de Jamestown, na Virgínia, para reconstruir a cronologia de precipitações e temperatura. Os pesquisadores concluíram que os colonizadores da colônia perdida desembarcaram na Ilha de Roanoke no verão do pior período de seca em 800 anos.
30. Os pesquisadores sugeriram que os croatanos que foram mortos a tiros pelos colonos podem ter saqueado a vila abandonada em busca de comida, como consequência da seca. A dramática redução nas fontes de alimentos pode ter ainda forçado os colonos a abandonar Roanoke e tentar a sorte no continente.
31. Em 1998, a East Carolina University organizou o “The Croatoan project”, uma investigação arqueológica dos eventos de Roanoke. A equipe de escavação enviada à ilha descobriu um anel de sinete inglês do século 16, em ouro de 10 quilates (42% de pureza), um mosquete de pederneira e dois farthings de cobre também do século 16 no antigo lugar da capital de Croatoan, a 80 km de distância da antiga colônia de Roanoke.
32. Genealogistas foram capazes de relacionar o leão coroado do sinete à cota de armas dos Kendall e concluíram que o anel muito provavelmente pertenceu a um certo Mestre Kendall que é lembrado como tendo vivido na colônia de Ralph Lane na Ilha de Roanoke, entre 1585 e 1586. Se esse for o caso, o anel representa a primeira conexão material entre os colonos de Roanoke e os nativos da Ilha Hatteras.
33. Desde 2005, uma nova tentativa está em curso através do Lost Colony Center for Science and Research, para usar testes de DNA para provar ou desmentir a afirmação de que alguns sobreviventes da colônia perdida foram assimilados pelas tribos indígenas locais, seja através de adoção ou de escravização. Uma grande porcentagem de sobrenomes dos colonos desaparecidos existe entre membros destas tribos. Além disso, foram descobertas escrituras e testamentos que dão suporte a essa teoria.