A caça às bruxas foi uma perseguição política, social, econômica e, principalmente, religiosa que começou no século 15 e atingiu seu apogeu nos séculos 16 e 17, principalmente na Europa (Portugal, Espanha, França, Alemanha, Suíça, Inglaterra, Hungria, Polônia, Estônia, Letônia e Lituânia), mas também abrindo seus tentáculos às visitas dos inquisidores nas colônias americanas. As antigas seitas pagãs, de acordo com o Catolicismo e o Protestantismo, eram manifestações do diabo na Terra. Assim, a caça às bruxas entra no contexto da Reforma Protestante, da Inquisição (católica e protestante) e Contrarreforma. O mais famoso manual de caça às bruxas é o “Malleus maleficarum”, “Martelo das feiticeiras”, de 1486.
No século 20 a expressão “caça às bruxas” ganhou conotação mais ampla, falando sobre movimentos de perseguição política ou social. Assim, os perseguidos dizem que há uma caça às bruxas lembrando a época da Idade Moderna, quando vários inocentes foram perseguidos, torturados e mortos por crimes que nunca cometeram, mas foram forçados a confessar. Assim, sociologicamente poderíamos falar que, no século 20, o termo “caça às bruxas” se refere mais ao “terrorismo psicológico”.
Aspectos importantíssimos com relação à caça às bruxas...
1. O número total de vítimas dos julgamentos por bruxaria chega a cem mil, de acordo com alguns historiadores. Outros falam que o número pode ser muito maior porque em muitas vilas as pessoas faziam justiça com as próprias mãos;
2. O número total de julgamentos oficiais por bruxaria na Europa, feitos pela Igreja é de cerca de doze mil. Com isso comprova-se que não foi só a Igreja responsável pela matança de muitas pessoas acusadas de bruxaria, haja vista que o reformador João Calvino, na Suíça, fez um verdadeiro terror e matou várias pessoas no seu território;
3. Alguns historiadores contemporâneos acreditam que em todo mundo, entre os séculos 14 e 18, foram mortas mais de dez milhões de pessoas acusadas de bruxaria e paganismo, inclusive com a suposta acusação de “fazer refeição com o diabo”, ou “manterem relações sexuais com seres demoníacos”;
4. Apesar de ter começado na Idade Média, conhecida como “Idade das Trevas”, a caça às bruxas europeia foi um fenômeno da Idade Moderna, conhecida como “Idade das Luzes”, “Idade da Razão”, “Período do Renascimento das mentes”. Foi na modernidade que as taxas de mortalidade ficaram ainda maiores;
5. Embora supostas bruxas e bruxos tenham sido queimados, torturados e enforcados em julgamentos à revelia em um intervalo de quatro séculos, a maioria foi julgada e penalizada entre 1550 e 1650, nos cem anos mais histéricos do movimento, que envolvia, como dito, católicos e protestantes;
6. Muitas pessoas foram julgadas, denunciadas e mortas por denúncias de vizinhos invejosos que viam os outros prosperarem frente ao colonialismo e o Mercantilismo. Nesse período, enriquecer era um perigo muito grande;
7. O número de julgamentos e execuções tinha fortes variações no tempo e no espaço. Seria fácil encontrar localidades que, em determinado período, estavam sendo verdadeiros matadouros logo ao lado de regiões praticamente sem julgamentos por bruxaria;
8. A maior parte das mortes na Europa ocidental ocorreu nos períodos e também nos locais onde havia intenso conflito entre o Catolicismo e o Protestantismo, com consequente desordem social;
9. Ocorriam mais mortes em regiões de fronteira ou locais onde estivesse enfraquecido um poder central, com a ausência da Igreja ou do Estado. Fatores regionais tiveram papel decisivo nos modos e na intensidade dos julgamentos;
10. A maioria das vítimas confirmadas foi julgada e executada por cortes seculares, sendo as cortes seculares locais de longe as mais cruéis. As vítimas de cortes religiosas geralmente recebiam melhor tratamento, tinham mais chances de serem inocentadas e recebiam punições muito leves. Isso faz com que o mito religioso da caça às bruxas venha abaixo. As cortes seculares eram mais severas por causa da questão já supracitada da inveja da riqueza alheia, por isso muitos judeus foram condenados severamente;
11. Um fato é que as mortes em tribunais católicos eram mais rápidas, como fogueiras ou enforcamentos. Já as mortes em tribunais protestantes eram mais “duras” e demoradas, com mutilações, torturas em água fria no inverno rigoroso da Europa e a morte em fogo lento (a pessoa assava num braseiro como churrasco);
12. É válido notar que muitos países da Europa quase não participaram da caça às bruxas, e três quartos do território europeu não viu um julgamento sequer. A Islândia, por exemplo, executou quatro suspeitas bruxas e a Rússia dez. o terror foi mais forte em Portugal, na Espanha, na França, na Alemanha e na Suíça;
13. Numa média, 25% das vítimas foram homens, assim sendo 75% mulheres, mas a proporção entre homens e mulheres condenados podia variar consideravelmente de um local para o outro. Mulheres estiveram mais presentes que os homens também enquanto denunciantes e não apenas como vítimas;
14. Heinrich Kraemer, da Ordem dos Pregadores (Dominicanos), publicou o livro “Malleus Maleficarum” (“Martelo das Feiticeiras”), que foi condenado e proibido pela Igreja, mas mesmo assim amplamente usado por perseguidores fanáticos e muitas vezes perversos para torturar e condenar supostas bruxas;
15. Benedict Caprzov, jurista luterano fervoroso e um dos pais do direito penal moderno, desenvolveu também teorias a respeito do tratamento penal de bruxas. A propaganda nacional-socialista fazia-o responsável por inúmeras mortes, mas segundo pesquisas modernas não há provas para a participação direta dele em processos que terminaram com a morte por bruxaria. As fontes bíblicas citadas nos livros dele são: Lv 19,31; 20,6-27; Dt 12,1-5 e de preferência o Êxodo (22,18); “Não deixarás viver a feiticeira”;
16. Até onde se sabe, algumas vítimas adoravam entidades pagãs e, por isso, poderiam ser vistas como indiretamente ligadas aos “neopagãos” atuais, mas oficialmente consta nos autos que esses casos eram uma minoria;
17. Também é verdade que algumas das vítimas eram parteiras ou curandeiras, mas eram uma minoria. A maioria se dizia cristã ou judia, uma vez que a população pagã era bem rara na Europa da Idade Média, ao contrário do que pensam muitas pessoas. Na Idade Média o paganismo já estava em baixa e só voltou à moda entre os séculos 18 e 19;
18. No passado os historiadores consideraram a caça às bruxas europeia como um ataque de histeria supersticiosa que teria sido supostamente forjada e espelhada pela Igreja católica. Seguindo essa lógica, era “natural” supor que a perseguição teria sido pior quando o poder da Igreja era maior, ou seja, antes de a Reforma Protestante dividir a cristandade ocidental em segmentos conflitantes;
19. Nessa visão, embora houvessem ocorrido também julgamentos no começo do período moderno, eles teriam sido poucos se comparados aos supostos horrores medievais. As pesquisas recentes derrubaram essa teoria de forma bastante clara e, ironicamente, descobriu-se que o apogeu da histeria contra as bruxas ocorreu entre 1550 e 1650, pouco depois do nascimento da Reforma Protestante e em parte já no início da celebrada “Idade da Razão”;
20. Virtualmente todas as sociedades anteriores ao período moderno acreditavam em magia e formularam leis proibindo que crimes fossem cometidos através de meios mágicos. O período medieval não foi exceção, mas inicialmente não havia ninguém caçando bruxas de forma ativa e esse contexto relativamente benigno permaneceu sem grandes alterações por séculos;
21. As posturas tradicionais começaram a mudar perto do fim da Idade Média. No início do século XIV, na parte central da Europa, começaram a surgir rumores e pânico acerca de conspirações malignas que estariam tentando destruir os reinos cristãos através de magia e envenenamento; falava-se de conspirações por parte dos muçulmanos e de associações entre judeus e leprosos ou judeus e bruxas;
22. Os judeus que por toda Idade Média tiveram liberdade de religião começaram a ser vistos com desconfiança pela população. Depois da enorme devastação decorrente da peste negra esses rumores aumentaram e passaram a focar mais em bruxas e “propagadores de praga”. Depois da peste também se espalhou aquela ideia de que o banho frequente desprotegia a pele e trazia doenças para o corpo através da água, que era supostamente contaminada por conspiradores;
23. Casos de processo por bruxaria foram aumentando lentamente, mas de forma constante, até que os primeiros julgamentos em massa apareceram na segunda metade do século XV. Ao surgirem as primeiras ondas da Reforma Protestante o número de julgamentos chegou a diminuir por alguns anos. Entretanto, em 1550 com o fortalecimento dos Estados protestantes a perseguição cresce novamente, atingindo níveis alarmantes especialmente em terras alemãs e suíças;
24. A partir de 1550 percebe-se o período mais histérico e sanguinário da perseguição, que vai de 1550 a 1650. Depois desse período os julgamentos diminuíram fortemente e desapareceram completamente em torno de 1700;
25. Virtualmente todas as sociedades anteriores ao período moderno reconheciam o “poder” das bruxas e, em função disso, formularam leis proibindo que crimes fossem cometidos através de meios mágicos. O período medieval não foi exceção, e podemos encontrar as caças às bruxas desde o auge da civilização babilônica. Esta suspeita costumava recair sobre as mulheres estrangeiras e suas estranhas práticas culturais;
26. As posturas tradicionais começaram a mudar perto do fim da Idade Média. Pouco depois de 1300, na Europa Central, começaram a surgir rumores e pânico acerca de conspirações malignas que estariam tentando destruir os reinos cristãos através de magia e envenenamento;
27. Em 1484 foi lançado o livro “Malleus Maleficarum”, pelos inquisidores Heinrich Kraemer e James Sprenger, livro este que inicialmente foi prontamente recusado pelo bispo que o encomendou, tendo seus dois autores sido posteriormente excomungados por continuarem publicando-o. Com 28 edições esse volumoso manual define as práticas consideradas demoníacas. Ele se torna uma espécie de “bíblia” da caça às bruxas e vai ter grande influência do outro lado do Atlântico séculos depois sobre as comunidades puritanas nos Estados Unidos, tendo sido utilizado no famoso caso das bruxas de Salém;
28. Ao surgirem as primeiras ondas da Reforma Protestante o número de julgamentos chega a diminuir por alguns anos. Entretanto, em 1550 a perseguição cresce novamente, dessa vez atingindo níveis alarmantes. Esse é o período mais sanguinário da história, que atingiu tanto terras católicas como protestantes e durou de 1550 a 1650;
29. Em 1782, na Suíça, foi morta a fio de espada a última pessoa no mundo condenada por práticas de bruxaria, em terras comandadas pelos calvinistas. Trata-se da história da empregada doméstica e babá Anna Göldi. Recentemente, neste blog, publicamos a história envolvendo seu processo, sua vida e sua condenação à morte;
30. A partir de 1970 uma mudança considerável ocorreu no estudo da caça às bruxas europeia, com a tentativa de “filtrar” o fato político da perseguição a seitas religiosas. Os historiadores passaram a se deter aos registros históricos dos julgamentos, deixando de lado fontes não oficiais sobre o tema. Essa metodologia trouxe mudanças significativas na visão acadêmica sobre o tema, sugerindo-se agora, por exemplo, que o número de vítimas fatais não seria superior a cem mil pessoas, enquanto antes, considerando-se os relatos não oficiais, as estimativas escalariam a casa de nove milhões;
31. É um fato que na época da Inquisição espanhola a Igreja perdeu totalmente o controle sobre o que veio a se tornar uma verdadeira histeria coletiva, com julgamentos e execuções realizadas à sua revelia pela comunidade. O mesmo acabou acontecendo em alguns cantões da Suíça durante o império do terror de João Calvino;
32. Em função da revisão histórica, passaram a ser postuladas as seguintes ideias chave: a caça às bruxas na Europa começou no fim da Idade Média e foi uma questão de seitas e conotação de processo religioso, político e social da Idade Moderna. A situação assumiu tamanha dimensão, também devido às populações sofrerem frequentemente de maus anos agrícolas e de epidemias, resultando elevada taxa de mortalidade, e dominadas pela superstição e pelo medo;
33. A quantidade de julgamentos e a proporção entre homens e mulheres condenados poderão variar consideravelmente de um local para o outro. A maioria das vítimas foi julgada e executada por tribunais seculares, sendo os tribunais locais, foram de longe os mais intolerantes e cruéis;
34. A maioria das vítimas era parteiras ou curandeiros; mas a maioria não era bruxa. A grande maioria das vítimas era da religião cristã, até porque a população pagã na Europa na época da caça às bruxas era muito reduzida;
35. Estudos recentes apontam que muitas das vítimas da caça às bruxas, bem como de muitos casos de endemoniados, teriam sido vítimas de uma intoxicação. O agente causador era um fungo denominado “Claviceps purpúrea”, um contaminante comum do centeio e outros cereais. Este fungo biossintetiza uma classe de metabólitos secundários conhecidos como alcaloides da cravagem e, dependendo de suas estruturas químicas, afetavam profundamente o sistema nervoso central;
36. Os camponeses que comeram pão de centeio (o pão das classes mais pobres) contaminado com o fungo eram envenenados e desenvolveram a doença, atualmente denominada de ergotismo. Em alguns casos, também se verificou alegações falsas de prática de bruxaria e de estar possuído pelo demônio, com o fim de se apropriar ilicitamente de bens alheios ou como uma forma de vingança.
No século 20 a expressão “caça às bruxas” ganhou conotação mais ampla, falando sobre movimentos de perseguição política ou social. Assim, os perseguidos dizem que há uma caça às bruxas lembrando a época da Idade Moderna, quando vários inocentes foram perseguidos, torturados e mortos por crimes que nunca cometeram, mas foram forçados a confessar. Assim, sociologicamente poderíamos falar que, no século 20, o termo “caça às bruxas” se refere mais ao “terrorismo psicológico”.
Aspectos importantíssimos com relação à caça às bruxas...
1. O número total de vítimas dos julgamentos por bruxaria chega a cem mil, de acordo com alguns historiadores. Outros falam que o número pode ser muito maior porque em muitas vilas as pessoas faziam justiça com as próprias mãos;
2. O número total de julgamentos oficiais por bruxaria na Europa, feitos pela Igreja é de cerca de doze mil. Com isso comprova-se que não foi só a Igreja responsável pela matança de muitas pessoas acusadas de bruxaria, haja vista que o reformador João Calvino, na Suíça, fez um verdadeiro terror e matou várias pessoas no seu território;
3. Alguns historiadores contemporâneos acreditam que em todo mundo, entre os séculos 14 e 18, foram mortas mais de dez milhões de pessoas acusadas de bruxaria e paganismo, inclusive com a suposta acusação de “fazer refeição com o diabo”, ou “manterem relações sexuais com seres demoníacos”;
4. Apesar de ter começado na Idade Média, conhecida como “Idade das Trevas”, a caça às bruxas europeia foi um fenômeno da Idade Moderna, conhecida como “Idade das Luzes”, “Idade da Razão”, “Período do Renascimento das mentes”. Foi na modernidade que as taxas de mortalidade ficaram ainda maiores;
5. Embora supostas bruxas e bruxos tenham sido queimados, torturados e enforcados em julgamentos à revelia em um intervalo de quatro séculos, a maioria foi julgada e penalizada entre 1550 e 1650, nos cem anos mais histéricos do movimento, que envolvia, como dito, católicos e protestantes;
6. Muitas pessoas foram julgadas, denunciadas e mortas por denúncias de vizinhos invejosos que viam os outros prosperarem frente ao colonialismo e o Mercantilismo. Nesse período, enriquecer era um perigo muito grande;
7. O número de julgamentos e execuções tinha fortes variações no tempo e no espaço. Seria fácil encontrar localidades que, em determinado período, estavam sendo verdadeiros matadouros logo ao lado de regiões praticamente sem julgamentos por bruxaria;
8. A maior parte das mortes na Europa ocidental ocorreu nos períodos e também nos locais onde havia intenso conflito entre o Catolicismo e o Protestantismo, com consequente desordem social;
9. Ocorriam mais mortes em regiões de fronteira ou locais onde estivesse enfraquecido um poder central, com a ausência da Igreja ou do Estado. Fatores regionais tiveram papel decisivo nos modos e na intensidade dos julgamentos;
10. A maioria das vítimas confirmadas foi julgada e executada por cortes seculares, sendo as cortes seculares locais de longe as mais cruéis. As vítimas de cortes religiosas geralmente recebiam melhor tratamento, tinham mais chances de serem inocentadas e recebiam punições muito leves. Isso faz com que o mito religioso da caça às bruxas venha abaixo. As cortes seculares eram mais severas por causa da questão já supracitada da inveja da riqueza alheia, por isso muitos judeus foram condenados severamente;
11. Um fato é que as mortes em tribunais católicos eram mais rápidas, como fogueiras ou enforcamentos. Já as mortes em tribunais protestantes eram mais “duras” e demoradas, com mutilações, torturas em água fria no inverno rigoroso da Europa e a morte em fogo lento (a pessoa assava num braseiro como churrasco);
12. É válido notar que muitos países da Europa quase não participaram da caça às bruxas, e três quartos do território europeu não viu um julgamento sequer. A Islândia, por exemplo, executou quatro suspeitas bruxas e a Rússia dez. o terror foi mais forte em Portugal, na Espanha, na França, na Alemanha e na Suíça;
13. Numa média, 25% das vítimas foram homens, assim sendo 75% mulheres, mas a proporção entre homens e mulheres condenados podia variar consideravelmente de um local para o outro. Mulheres estiveram mais presentes que os homens também enquanto denunciantes e não apenas como vítimas;
14. Heinrich Kraemer, da Ordem dos Pregadores (Dominicanos), publicou o livro “Malleus Maleficarum” (“Martelo das Feiticeiras”), que foi condenado e proibido pela Igreja, mas mesmo assim amplamente usado por perseguidores fanáticos e muitas vezes perversos para torturar e condenar supostas bruxas;
15. Benedict Caprzov, jurista luterano fervoroso e um dos pais do direito penal moderno, desenvolveu também teorias a respeito do tratamento penal de bruxas. A propaganda nacional-socialista fazia-o responsável por inúmeras mortes, mas segundo pesquisas modernas não há provas para a participação direta dele em processos que terminaram com a morte por bruxaria. As fontes bíblicas citadas nos livros dele são: Lv 19,31; 20,6-27; Dt 12,1-5 e de preferência o Êxodo (22,18); “Não deixarás viver a feiticeira”;
16. Até onde se sabe, algumas vítimas adoravam entidades pagãs e, por isso, poderiam ser vistas como indiretamente ligadas aos “neopagãos” atuais, mas oficialmente consta nos autos que esses casos eram uma minoria;
17. Também é verdade que algumas das vítimas eram parteiras ou curandeiras, mas eram uma minoria. A maioria se dizia cristã ou judia, uma vez que a população pagã era bem rara na Europa da Idade Média, ao contrário do que pensam muitas pessoas. Na Idade Média o paganismo já estava em baixa e só voltou à moda entre os séculos 18 e 19;
18. No passado os historiadores consideraram a caça às bruxas europeia como um ataque de histeria supersticiosa que teria sido supostamente forjada e espelhada pela Igreja católica. Seguindo essa lógica, era “natural” supor que a perseguição teria sido pior quando o poder da Igreja era maior, ou seja, antes de a Reforma Protestante dividir a cristandade ocidental em segmentos conflitantes;
19. Nessa visão, embora houvessem ocorrido também julgamentos no começo do período moderno, eles teriam sido poucos se comparados aos supostos horrores medievais. As pesquisas recentes derrubaram essa teoria de forma bastante clara e, ironicamente, descobriu-se que o apogeu da histeria contra as bruxas ocorreu entre 1550 e 1650, pouco depois do nascimento da Reforma Protestante e em parte já no início da celebrada “Idade da Razão”;
20. Virtualmente todas as sociedades anteriores ao período moderno acreditavam em magia e formularam leis proibindo que crimes fossem cometidos através de meios mágicos. O período medieval não foi exceção, mas inicialmente não havia ninguém caçando bruxas de forma ativa e esse contexto relativamente benigno permaneceu sem grandes alterações por séculos;
21. As posturas tradicionais começaram a mudar perto do fim da Idade Média. No início do século XIV, na parte central da Europa, começaram a surgir rumores e pânico acerca de conspirações malignas que estariam tentando destruir os reinos cristãos através de magia e envenenamento; falava-se de conspirações por parte dos muçulmanos e de associações entre judeus e leprosos ou judeus e bruxas;
22. Os judeus que por toda Idade Média tiveram liberdade de religião começaram a ser vistos com desconfiança pela população. Depois da enorme devastação decorrente da peste negra esses rumores aumentaram e passaram a focar mais em bruxas e “propagadores de praga”. Depois da peste também se espalhou aquela ideia de que o banho frequente desprotegia a pele e trazia doenças para o corpo através da água, que era supostamente contaminada por conspiradores;
23. Casos de processo por bruxaria foram aumentando lentamente, mas de forma constante, até que os primeiros julgamentos em massa apareceram na segunda metade do século XV. Ao surgirem as primeiras ondas da Reforma Protestante o número de julgamentos chegou a diminuir por alguns anos. Entretanto, em 1550 com o fortalecimento dos Estados protestantes a perseguição cresce novamente, atingindo níveis alarmantes especialmente em terras alemãs e suíças;
24. A partir de 1550 percebe-se o período mais histérico e sanguinário da perseguição, que vai de 1550 a 1650. Depois desse período os julgamentos diminuíram fortemente e desapareceram completamente em torno de 1700;
25. Virtualmente todas as sociedades anteriores ao período moderno reconheciam o “poder” das bruxas e, em função disso, formularam leis proibindo que crimes fossem cometidos através de meios mágicos. O período medieval não foi exceção, e podemos encontrar as caças às bruxas desde o auge da civilização babilônica. Esta suspeita costumava recair sobre as mulheres estrangeiras e suas estranhas práticas culturais;
26. As posturas tradicionais começaram a mudar perto do fim da Idade Média. Pouco depois de 1300, na Europa Central, começaram a surgir rumores e pânico acerca de conspirações malignas que estariam tentando destruir os reinos cristãos através de magia e envenenamento;
27. Em 1484 foi lançado o livro “Malleus Maleficarum”, pelos inquisidores Heinrich Kraemer e James Sprenger, livro este que inicialmente foi prontamente recusado pelo bispo que o encomendou, tendo seus dois autores sido posteriormente excomungados por continuarem publicando-o. Com 28 edições esse volumoso manual define as práticas consideradas demoníacas. Ele se torna uma espécie de “bíblia” da caça às bruxas e vai ter grande influência do outro lado do Atlântico séculos depois sobre as comunidades puritanas nos Estados Unidos, tendo sido utilizado no famoso caso das bruxas de Salém;
28. Ao surgirem as primeiras ondas da Reforma Protestante o número de julgamentos chega a diminuir por alguns anos. Entretanto, em 1550 a perseguição cresce novamente, dessa vez atingindo níveis alarmantes. Esse é o período mais sanguinário da história, que atingiu tanto terras católicas como protestantes e durou de 1550 a 1650;
29. Em 1782, na Suíça, foi morta a fio de espada a última pessoa no mundo condenada por práticas de bruxaria, em terras comandadas pelos calvinistas. Trata-se da história da empregada doméstica e babá Anna Göldi. Recentemente, neste blog, publicamos a história envolvendo seu processo, sua vida e sua condenação à morte;
30. A partir de 1970 uma mudança considerável ocorreu no estudo da caça às bruxas europeia, com a tentativa de “filtrar” o fato político da perseguição a seitas religiosas. Os historiadores passaram a se deter aos registros históricos dos julgamentos, deixando de lado fontes não oficiais sobre o tema. Essa metodologia trouxe mudanças significativas na visão acadêmica sobre o tema, sugerindo-se agora, por exemplo, que o número de vítimas fatais não seria superior a cem mil pessoas, enquanto antes, considerando-se os relatos não oficiais, as estimativas escalariam a casa de nove milhões;
31. É um fato que na época da Inquisição espanhola a Igreja perdeu totalmente o controle sobre o que veio a se tornar uma verdadeira histeria coletiva, com julgamentos e execuções realizadas à sua revelia pela comunidade. O mesmo acabou acontecendo em alguns cantões da Suíça durante o império do terror de João Calvino;
32. Em função da revisão histórica, passaram a ser postuladas as seguintes ideias chave: a caça às bruxas na Europa começou no fim da Idade Média e foi uma questão de seitas e conotação de processo religioso, político e social da Idade Moderna. A situação assumiu tamanha dimensão, também devido às populações sofrerem frequentemente de maus anos agrícolas e de epidemias, resultando elevada taxa de mortalidade, e dominadas pela superstição e pelo medo;
33. A quantidade de julgamentos e a proporção entre homens e mulheres condenados poderão variar consideravelmente de um local para o outro. A maioria das vítimas foi julgada e executada por tribunais seculares, sendo os tribunais locais, foram de longe os mais intolerantes e cruéis;
34. A maioria das vítimas era parteiras ou curandeiros; mas a maioria não era bruxa. A grande maioria das vítimas era da religião cristã, até porque a população pagã na Europa na época da caça às bruxas era muito reduzida;
35. Estudos recentes apontam que muitas das vítimas da caça às bruxas, bem como de muitos casos de endemoniados, teriam sido vítimas de uma intoxicação. O agente causador era um fungo denominado “Claviceps purpúrea”, um contaminante comum do centeio e outros cereais. Este fungo biossintetiza uma classe de metabólitos secundários conhecidos como alcaloides da cravagem e, dependendo de suas estruturas químicas, afetavam profundamente o sistema nervoso central;
36. Os camponeses que comeram pão de centeio (o pão das classes mais pobres) contaminado com o fungo eram envenenados e desenvolveram a doença, atualmente denominada de ergotismo. Em alguns casos, também se verificou alegações falsas de prática de bruxaria e de estar possuído pelo demônio, com o fim de se apropriar ilicitamente de bens alheios ou como uma forma de vingança.